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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O dia das livrarias e dos livreiros, parabéns!

 
 
 
«Livreiros?... Quando digo “livreiros” não me refiro às pessoas que casualmente ou temporariamente vão vendendo livros um pouco por toda a parte (sem qualquer tipo de desconsideração para com estas). Os livreiros, e eu conheço alguns, são aqueles que adoram livros, conhecem muitos livros e lêem outros tantos, mas são sobretudo aqueles que, por passarem tanto tempo manuseando livros, se começam a confundir com eles. São como os casais, cujo fácies, após tantos anos de casamento, se assemelha. – Estão a ver? Um livreiro é praticamente um livro, ou melhor, bocadinhos de muitos livros. Não dos novos, os de quinze minutos de fama, mas daqueles com folhas amareladas, fechadas que se abrem com uma faca especial e que fazem comichão no nariz, do pó que levantam. Daqueles que as traças (mais conhecidos por peixinhos-de-prata) sabem que são melhores para alimento, ou que, como dizia George Orwell, os tais onde as moscas azuis escolhem para morada eterna. Os livreiros, porque já não se vendem, só raramente se encontram nas prateleiras das livrarias. Porém, quando os encontramos, dificilmente passamos sem os consultar. Se os abrimos a surpresa é grande: cheios de histórias para contar, deles, dos outros e dos livros. Pode ser uma pequena estória, um diálogo que ouviram, um poema que leram, um aforismo muito antigo, lido e repetido em tantos livros que deixou de ter dono e passou a ser deles. Normalmente são cultos, não tanto pelo que lêem, embora leiam muito; mas muito mais pelo que ouvem. - Só provavelmente num confessionário ou num bar se ouve mais. Os livreiros são aqueles que melhor têm a noção da futilidade ou da importância dos livros. Sabem que os livros também são uma mercadoria que se compra e se vende e de que eles próprios, livreiros, fazem parte. Os livreiros são livreiros porque têm uma dupla finalidade, uma delas é pública, a outra é, muito secretamente, pessoal. A pública é a de vender livros, incentivar a leitura e divulgar o livro, fazendo-o ao partilhar com os outros as suas próprias leituras, organizando tertúlias, eventos literários, cursos, etc. A outra, como dizia um editor meu conhecido, no fim da sua vida: «Eu errei sucessivamente de profissão, o que eu queria era estar junto dos livros para poder ler o que me apetecesse.»»

Jaime Bulhosa

Um livro

Poema de Borges:
Um livro

Apenas uma coisa entre outras coisas
Mas também uma arma. Foi forjada

Em Inglaterra, em 1604,
E carregada com um sonho. Encerra
O som, a fúria, a noite e o escarlate.
A minha mão sopesa-a. Quem diria
Que contém o inferno: essas barbudas
Bruxas que são as parcas, os punhais
Que executam as duras leis da sombra,
O delicado ar desse castelo
Que te verá morrer, a delicada
Mão que é capaz de ensanguentar os mares,
O clamor e a espada da batalha.

Esse tumulto silencioso dorme
No espaço de um só livro, na tranquila
Prateleira da estante. Dorme e espera.


 Fernando Vicente
 
Alessandro Gottardo

«Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.»
Eugénio de Andrade

On visiting bookshops | Christopher Morley


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Valter Hugo Mãe é o grande vencedor do Prémio Portugal Telecom 2012

         Valter Hugo Mãe nasceu em Saurimo, Angola, no ano de 1971. Licenciado em Direito, pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Vive em Vila do Conde.
        Publicou cinco romances: O filho de mil homens (2011), a máquina de fazer espanhóis (2010) o apocalipse dos trabalhadores (2008), o remorso de baltazar serapião, vencedor do Prémio José Saramago (2006) e o nosso reino (2004).
          A sua obra poética está revista e reunida no volume contabilidade (Objectiva/Alfaguara, 2010). É autor dos livros para os mais novos: O rosto (Agosto 2010), As mais belas coisas do mundo (Agosto 2010), A verdadeira história dos pássaros (2009) e A história do homem calado (2009). Escreve a crónica Autobiografia imaginária no Jornal de Letras.
       Valter Hugo Mãe é vocalista do grupo musical Governo e esporadicamente dedica-se às artes plásticas.
Letrista dos músicos/projectos Mundo Cão, Paulo Praça, Indignu, Salto, Frei Fado Del’Rei, Blandino e Eliana Castro.
        Recebeu, em 2009, o troféu Figura do Futuro, atribuído pelo Correio da Manhã. Recebeu, em 2010, a Pena de Camilo Castelo Branco. Em 2010 recebeu a Medalha de Mérito Singular de Vila do Conde.


Quint Buchholz, Eines Morgens im November



Para o lanche, o que acham?