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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

De Évora à Guiné-Bissau com muito carinho






Como eu não sei rezar..., António Zambujo

Aeppol

Como eu não sei rezar
um dia pus-me a contar
quantas estrelas há no céu
comecei na tua rua
naquela estrela que é tua
a estrela que Deus te deu

Quanto mais estrelas contava
mais o céu se iluminava
mais luzinhas se acendiam
nem o astro se cansava
eram tantas que eu cegava
e era por ti que nasciam

Quando o coração da gente
tem uma estrela cadente
morre para nascer depois
inventei uma oração
que uma tivesse o condão
de nascer para nós os dois

Adormeci com a esperança
até onde a vista alcança
quando o céu é mais estrelado
acordei à luz do sol
afastei o meu lençol
e tu estavas a meu lado.

António Zambujo

Eu sei tudo sobre o Pai Natal | Nathalie Delebarre

http://sarahwilkins.net/

Os crescidos dizem
que o Pai Natal não existe.
Mas eu não acredito neles.
Então se o Pai Natal não existe,
quem é que traz os presentes todos os anos?
Os crescidos dizem
que ninguém consegue descer pela chaminé. 
Sobretudo com um saco tão grande às costas.
Mas eu sei que é possível.
O mais difícil é subir.
Os crescidos dizem
que o Pai Natal não tem tempo
para ler as cartas de todos os meninos.
Dizem que são tantas que nem se consegue contá-las.
Mas eu sei que ele as lê,
porque nunca se engana nos presentes.
Os crescidos dizem
que os trenós não podem voar pelos céus, nem aterram nos telhados das casas.
Mas eu digo que eles estão enganados,
porque são as renas que voam e não os trenós.
Os crescidos dizem
que o Pai Natal não pode estar em todas as lojas ao mesmo tempo.
Mas eu acho que isso é um disparate,
porque toda a gente sabe
que os Pais Natais das lojas são a fingir!
Os crescidos dizem
que o Pai Natal, se existisse,
nunca poderia entrar nas casas que não têm chaminé.
Mas eu acho que o importante não é a chaminé.
O que importa é a árvore de Natal.
Nathalie Delebarre 

Natal na província, Fernando Pessoa

La Casuni

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa, in Poesias

O Natal já anda no ar...

 Nerina Canzi 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Uma sugestão de leitura para o Natal!

      Mary Poppins é o primeiro de uma série de oito livros infanto-juvenis escritos pela escritora australiana Pamela Lyndon Travers, publicado originalmente em 1934, em Londres.


Julia Sarda

Apetece?


Na próxima semana, Rui Melgão na BE

Rui Melgão confirmou a sua disponibilidade para dinamizar as sessões de contos na nossa BE, nos seguintes dias e horas:

3ª feira, dia 13/12, início às 8h15 - 6º C
6ª feira, dia 16/12, início às 10h05 - 6º G
6ª feira, dia 16/12, início às 11h45 - 6º F

As sessões têm a duração prevista de 90 minutos e decorrerão na sala polivalente da Biblioteca.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O gigante egoísta, um conto delicioso de Oscar Wilde

 
 Adrian Ponz


Todas as tardes, quando vinham da escola, as crianças iam brincar para o jardim do Gigante. Era um jardim grande magnífico, coberto de relva macia e verde. Aqui e ali despontavam flores lindas como estrelas e havia doze pessegueiros que, com a chegada da Primavera, floresciam em tons de cor-de-rosa e pérola e, no Outono, ficavam carregados de esplêndidos frutos. As aves pousavam nas árvores e cantavam tão suavemente que as crianças interrompiam os seus jogos para as ouvir.
    - Que bem que se está aqui! - diziam umas às outras.
     Um dia, o Gigante regressou. Tinha ido visitar o seu amigo, o Ogre da Cornualha, e demorara-se por lá sete anos. Ao fim de sete anos, tinha dito tudo o que havia para dizer, porque a sua conversa era limitada, e decidiu voltar ao castelo. Quando chegou, viu as crianças a brincar no jardim.
      - Que fazeis aqui? -gritou ele, com voz severa.
       E as crianças fugiram.
       -Este jardim é muito meu – sentenciou o Gigante.
    -Que todos o fiquem sabendo. Não consinto que ninguém venha para aqui divertir-se a não ser eu próprio.
       Ergueu então um muro muito alto a toda a volta do jardim e afixou nele o seguinte aviso:
É proibida a entrada 
Os transgressores serão castigados.
     Era muito egoísta este Gigante. Agora as pobres crianças não tinham onde brincar. Tentaram brincar na estrada, mas havia muita poeira e pedras grossas, o que não lhes agradou. Depois das aulas, vagueavam à roda do muro, conversando sobre o belo jardim que existia do outro lado.
     - Como éramos felizes lá dentro! -comentavam entre si.
      Chegou então a Primavera e por todo o lado havia flores e chilreavam avezinhas. Só no jardim do Gigante continuava o Inverno. As aves não lhes apetecia ir lá cantar porque não havia crianças e as árvores esqueceram-se de florir. Um dia, uma linda flor ergueu a cabeça acima da relva, mas, quando viu o aviso, teve tanta pena das crianças que se sumiu de novo na terra e adormeceu. Os únicos seres satisfeitos eram a Neve e a Geada.
      - A Primavera esqueceu-se deste jardim! -exclamavam elas. - Por isso, podemos ficar aqui todo o ano.
    A Neve cobriu a relva com o seu imenso manto branco e a Geada pintou de prata todas as árvores. Convidaram depois para viver com elas o Vento Norte que aceitou o convite. Estava envolto em peles e rugia todo o dia pelo jardim, derrubando as chaminés.
         - Que lugar admirável! -disse ele. -Temos de convidar também o Granizo.
      E, assim, veio o Granizo. Diariamente, durante três horas, rufava nos telhados até partir a maior parte das ardósias[4] e corria, depois, pelo jardim, o mais depressa que lhe era possível. Vestia de cinzento e tinha um hálito frio como gelo.
        - Não percebo porque é que a Primavera tarda tanto -pensava o Gigante Egoísta sentado à janela a olhar para o seu jardim branco de neve.
         -Espero que o tempo melhore.
         Mas a Primavera nunca veio e nunca veio o Verão. Com o Outono, chegavam frutos maduros a todos os jardins, menos ao do Gigante.
         - O Outono é muito egoísta, -considerava o Gigante, enquanto o Inverno reinava no seu jardim e o Vento Norte, a Geada, o Granizo e a Neve dançavam por entre as árvores.
     Uma bela manhã, estava o Gigante ainda deitado, mas já desperto, quando ouviu uma música encantadora. Soava tão docemente aos seus ouvidos que supôs serem os músicos do rei que passavam. Na realidade, era apenas um pintarroxo que lhe cantava à janela; mas havia já tanto tempo que não ouvia o canto dos pássaros no seu jardim que aquilo lhe pareceu a música mais bela do mundo. Então o Granizo deixou de rufar-lhe nos telhados, o Vento Norte deixou de rugir e chegou-lhe, pela janela aberta, um perfume delicioso.
          - Parece que a Primavera chegou, finalmente! -exclamou o Gigante, saltando da cama e olhando para o jardim. E que viu ele? Viu um espectáculo deslumbrante. Por um buraco pequeno no muro, as crianças tinham passado para o jardim e estavam empoleiradas nos ramos das árvores. Havia uma criança em cada árvore. E as árvores ficaram tão contentes com o regresso da pequenada que de novo se cobriram de flores e agitavam suavemente os ramos sobre as suas cabecitas. As aves esvoaçavam e chilreavam alegremente, as flores, por entre a relva, espreitavam e riam. Era um espectáculo encantador e só num recanto do jardim permanecia ainda o Inverno. Ali estava um miúdo tão pequeno que não conseguia trepar à árvore e andava de um lado para o outro, chorando amargamente. A pobre árvore continuava cheia de neve e geada; por cima dela ainda soprava e rugia o Vento Norte.
         - Sobe, meu menino -disse a árvore, inclinando os ramos o mais que podia, mas a criança era pequenina demais. O coração do Gigante enterneceu-se, ao olhar lá para fora.
         -Tenho sido tão egoísta! -reconheceu ele. - Agora percebo a razão por que a Primavera não aparecia. Vou pôr o rapazinho em cima da árvore e depois vou derrubar o muro. O meu jardim será, para sempre o lugar de recreio das crianças.
          Estava realmente arrependido do que tinha feito. Desceu então a escada, abriu a porta devagarinho e chegou ao jardim. Mas as crianças, ao vê-lo, fugiram aterradas, e o Inverno voltou ao jardim. Só o rapazinho não fugiu, porque tinha os olhos cheios de lágrimas e não se apercebeu da chegada do Gigante. O Gigante, aproximando-se cautelosamente, pegou-lhe com todo o carinho e pô-lo em cima da árvore. Logo a árvore se encheu de flores, vieram pássaros cantar e o rapazinho, estendendo os braços para o Gigante, abraçou-o e beijou-o. As outras crianças, quando viram que o Gigante já não era mau, voltaram a correr; e com elas voltou a Primavera.
          - Agora, este jardim é vosso, meus meninos! -declarou o Gigante.
       Pegou então numa picareta enorme e derrubou o muro. E, ao meio-dia, as pessoas que iam para o mercado viram o Gigante a brincar com as crianças no mais belo jardim que jamais tinham contemplado. Brincaram todo o santo dia e, quando a noite chegou, foram despedir-se do Gigante.
          - Onde está o vosso companheiro? -perguntou ele. -Aquele que eu pus em cima da árvore. O Gigante gostava muito dele porque o tinha beijado.
             - Não sabemos nada dele -responderam as crianças. -Foi-se, embora.
        - Se o virem, digam-lhe que não falte amanhã. As crianças responderam que não sabiam onde ele morava e que antes nunca o tinham visto; e o Gigante ficou muito triste.
             Todas as tardes, ao saírem da escola, as crianças vinham brincar com o Gigante. Mas o rapazinho de quem o Gigante mais gostava não voltou a ser visto. O Gigante era muito bondoso para todas as crianças, mas suspirava pelo seu primeiro amiguinho e falava dele muitas vezes. Gostava tanto de o tornar a ver! -repetia ele. Passaram os anos e o Gigante envelheceu e enfraqueceu muito. Como já não podia brincar, sentava-se numa poltrona enorme a ver brincar as crianças e a admirar o seu jardim.
            - Tenho muitas flores bonitas -dizia - , mas as crianças são as mais bonitas de todas.
           Certa manhã de Inverno, enquanto se vestia, olhou pela janela. Agora já não odiava o Inverno porque sabia que era apenas a Primavera adormecida e que as flores repousavam. De repente, esfregou os olhos de espanto, olhou e tornou a olhar. Era, sem dúvida, um espectáculo maravilhoso. No recanto mais afastado do jardim, estava uma árvore completamente revestida de flores alvacentas. Eram áureos os ramos e argênteos os frutos que dela pendiam. E debaixo da árvore estava o rapazinho de quem ele tanto gostava. Cheio de alegria, o Gigante desceu apressadamente a escada para chegar ao jardim. Atravessou rapidamente a relva e aproximou-se do pequenino; mas, ao vê-lo, ficou vermelho de cólera.
           - Quem se atreveu a magoar-te? -perguntou, vendo feridas de pregos nas palmas das mãos e nos pés do pequenito.
           - Quem se atreveu a magoar-te? -gritou o Gigante. -Diz-me sem demora e vou já matá-lo com a minha espada.
             - Não -respondeu a criança -, estas são as feridas do Amor.
       - Então quem és tu? -quis saber o Gigante, sentindo-se invadido por um estranho sentimento e ajoelhando-se diante da criança.
              Esta sorriu e respondeu:
             - Um dia, deixaste-me brincar no teu jardim. Hoje, virás comigo para o meu, que é o Paraíso. E, nessa tarde, quando as crianças correram para o jardim, encontraram o Gigante morto, debaixo da árvore, e todo coberto de flores alvacentas.
Oscar Wilde

Estamos numa de animais... Susan Faye


Quem diria?

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Michael Sowa, tão bem que se está!


Workshop com a ilustradora Rachel Caiano na EB do Rossio.






sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Beato Salú (Salu)

     No âmbito da disciplina de Português, hoje vimos apresentar a pessoa importante que escolhemos – Luís Martins, também conhecido por Beato Salú.


Beato Salú nasceu em Évora, tem 76 anos e infelizmente teve um acidente cardiovascular há pouco tempo. Ele afirma que lhe tiraram a casa por razões políticas e assim, há sete anos que vive na rua. Uma curiosidade é que o Beato Salú é assim chamado devido a uma personagem de uma novela, com esse mesmo nome.
Teve várias profissões, entre as quais groom no Café Arcada, situado na Praça do Giraldo, foi também empregado numa fábrica de velas, onde aprendeu a fazer trabalhos com cera. Tem um irmão e uma irmã já falecida, com quem vivia. Teve um gato chamado Italiano com quem vivia na rua. Andou na escola primária e depois na comercial.
Ele afirma ter feito vários milagres e evitado várias catástrofes naturais, entre as quais ter desviado um furacão para o mar, dirigindo-se para todos os sítios para onde ele ia, fazendo ricochete no Luís e morrendo no mar. Essa força, segundo ele, foi-lhe atribuída por Deus. Diz ter evitado um genocídio, onde iriam morrer queimadas duas mil e quinhentas pessoas.
Depois da entrevista ambos analisamos reportagens em que recolhemos as seguintes informações:
Luís diz ter um valor superior ao das outras pessoas pelas coisas que tem feito (os milagres já falados). Ele entende-se como um ser diferente e diz que se não existisse, Portugal também não existiria. Ele contou na reportagem da SIC que com dois anos disse à mãe que os Portugueses estavam presos politicamente e que era ele quem os iria salvar. Ele vive em Évora há 29 anos, foi comerciante por todo o País e casou perto da Covilhã. Vive na nossa cidade  pois está a cumprir uma missão divina. Luís deixou a sua visa pessoal, todos os seus bens e família para completar essa missão. Não vê a sua mulher e filha há cerca de 29 anos, quando veio para Évora. Só os procurará quando acabar este seu trabalho. Infelizmente a sua mulher faleceu há 14 anos. O seu filho nunca respeitou a opinião do pai. Luís tem duas netas que nunca conheceu.
Uma vez, ao fim de dois dias num lar em Évora, fugiu de lá pois achou que não era coisa para ele. É um homem muito ligado à política, autoproclamando-se o pai da política. Luís é católico e muitos lhe chamam filósofo.
Gostámos muito de fazer este trabalho pois ficámos a saber mais sobre esta lenda viva da nossa cidade, que é o Beato Salú, mas também foi um pouco esquisito porque depois do AVC ele ficou com mau aspecto.
Foi difícil fazer esta apresentação oral, pois ao sermos dois não foi fácil organizarmo-nos e também porque no final da nossa entrevista só conseguimos arranjar cerca de um minuto para cada um, tendo assim de recorrer à reportagem da SIC, que nos deu mais de metade da informação.

Trabalho realizado a partir de uma entrevista de rua por  António Sequeira e Tomás Fialho de 11 anos.